A SHIP no limiar da celebração do seu 150.º aniversário

Conversa com o Presidente da Direcção Central Conversa com o Presidente da Direcção Central
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Conversa com o Presidente da Direcção Central

Breve Perfil do Entrevistado

Membro do Conselho Supremo e presidente da Direcção Central da SHIP nos últimos dois mandatos, o Dr. Jorge Alberto Hagedorn Rangel é natural de Macau, onde desempenhou altos cargos públicos, entre os quais os de deputado à Assembleia Legislativa, presidindo às Comissões de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e do Regimento e Mandatos, director do Turismo e da Comunicação Social, presidente da Fundação Macau e, durante treze anos, membro do Governo, tendo tutelado as áreas da Administração Pública, Educação, Ensino Superior, Cultura, Turismo, Juventude e Desporto, bem como o Gabinete da Transição.No âmbito do ensino superior, além da actividade docente, em Macau, em Portugal e em universidades estrangeiras, presidiu à comissão instaladora do Instituto Politécnico de Macau e à comissão que converteu a então Universidade da Ásia Oriental em instituição pública, foi consultor e é membro do Conselho Consultivo da Universidade Aberta Internacional da Ásia e director honorário do Centro de Estudos de Culturas da Universidade de Soka (Tóquio) e integrou o Conselho e a Assembleia da Universidade de Macau e a comissão instaladora da Faculdade de Ciências da Educação da mesma universidade.

Cumpriu o serviço militar nos Açores e na Guiné, onde, como capitão miliciano, comandou uma companhia de infantaria em zona de guerra e dirigiu a instrução de tropas no seu comando operacional. Desempenhou intensa actividade em organismos internacionais e associativos, tendo sido presidente do Elos Internacional – Movimento da Comunidade Lusíada e da EATA – Associação de Turismo da Ásia Oriental, presidente regional e membro vitalício da PATA – Organização de Turismo da Ásia-Pacífico, membro do Conselho Executivo da Organização Mundial de Turismo e membro vitalício da EROPA – Organização Regional para a Administração Pública, com sedes, respectivamente, em Santos (Brasil), Tóquio, Banguecoque, Madrid e Manila, e ainda em actividades da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas.
É presidente do Instituto Internacional de Macau e, nessa qualidade, participa regularmente, como orador, em conferências internacionais e encontros académicos, tendo coordenado o grupo de trabalho e as sessões sobre Multiculturalismo da Conferência Mundial sobre o Diálogo das Civilizações, em Tóquio e Osaca, no âmbito da Universidade das Nações Unidas.

É também dirigente de organismos da sociedade civil, como a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Conselho das Comunidades Macaenses, o Observatório da Língua Portuguesa e diversas fundações e associações de natureza académica, cultural e social.

Tem obra publicada e recebeu altas condecorações e outras distinções, nacionais e estrangeiras, entre as quais a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial e Grã-Cruz), a Medalha de Valor de Macau (a mais elevada no território na vigência da Administração Portuguesa), a Medalha de Mérito da Cidade do Rio de Janeiro, a Comenda Eduardo Dias Coelho do Elos Internacional, o troféu D. Quixote, do Conselho da Europa, a “Award of Excellence” do Instituto de Estudos Orientais de Tóquio, vários doutoramentos “honoris causa” e os títulos de membro de mérito, honorário ou benemérito de organismos como a Fundação Rotária Internacional, o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, o Liceu Literário Português, a Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras do Brasil e a Academia Portuguesa de História.

Independência – No final de mais um mandato, que balanço pode fazer destes anos em que presidiu ao órgão executivo da SHIP?
Jorge Rangel – Não devo ser eu a fazer o balanço, na perspectiva duma apreciação crítica. Quero, porém, aproveitar esta oportunidade para agradecer aos titulares dos órgãos sociais, e em especial aos colegas da Direcção Central, assim como aos sócios e funcionários da SHIP, toda a valiosíssima colaboração prestada, permitindo-nos ir tão longe quanto as circunstâncias, os meios e a nossa vontade, capacidade e disponibilidade o permitiram. Fez-se muito, o Palácio da Independência, sede da SHIP, funcionou verdadeiramente como uma Casa da Cultura e da História, com um diversificado e intenso programa de actividades, as parcerias úteis com outras instituições multiplicaram-se e a participação dos associados foi gratificante. Mas o nosso inconformismo faz-nos acreditar que ainda podíamos ter ido mais longe. Era esse, pelo menos, o nosso desejo.
Assumi a presidência, por substituição, num momento extremamente difícil, quando faleceu o então presidente, General Manuel Freire Themudo Barata, que recordo sempre com saudade e respeito. Apesar de estar ainda em Macau, embora fizesse deslocações frequentes a Lisboa, quis ele que eu integrasse, como vice-presidente, a última Direcção por ele presidida, para que, conforme me confidenciou, me preparasse para, “um dia”, o substituir.
Fiz-lhe ver que não podia dar-lhe a garantia de “um dia” mudar definitivamente a residência para Lisboa, preferindo, por isso, e correspondendo à sua confiança, ser apenas um dos vogais da Direcção e não o vice-presidente, até porque iria estar demasiado longe para o substituir nos seus impedimentos e ausências e para partilhar com ele especiais responsabilidades. Garantiu-me que isso não era necessário, porque, sendo também presidente a Comissão Portuguesa de História Militar, organismo oficial instalado num espaço do Palácio da Independência, passava ali muitas horas, todos os dias úteis. Além disso, já havia consenso quanto à lista a submeter a sufrágio, sendo de todo inconveniente qualquer alteração de última hora. Quando faleceu, a SHIP “caiu-me nos braços”, obrigando-me a mais deslocações e a mais prolongadas permanências em Lisboa, suportando pessoalmente todos os encargos inerentes.
Fiz depois, mais dois mandatos, estando agora preparado para, tranquilamente, passar o testemunho. Não me canso de dizer que tudo o que de positivo se fez foi obra de muitos e que a SHIP é um organismo verdadeiramente exemplar no que concerne à iniciativa, participação e envolvimento activo da massa associativa.

Independência – Em vésperas da comemoração do 150.º aniversário da SHIP, como perspectiva o seu desenvolvimento futuro?
Jorge Rangel – A parte mais pesada do nosso trabalho foram as batalhas quotidianas para a SHIP sobreviver e desenvolver-se num contexto de crescentes dificuldades financeiras. Houve um tempo em que vários Ministérios (Finanças, Cultura e Defesa Nacional) apoiavam a SHIP, subsidiando as obras de manutenção do Palácio da Independência, como monumento nacional que é, as actividades culturais e a comemoração das grandes datas nacionais. Quando substituí o General Themudo Barata, já só o Ministério da Defesa Nacional ainda nos concedia um subsídio anual, cujo valor foi minguando, ano após ano, apesar do aumento muito significativo de projectos e actividades, representando, hoje, menos de 1/3 do montante então concedido. E, curiosamente, na mesma altura em que o Ministério das Finanças nos comunicou que os subsídios dali provenientes deviam passar para a tutela da Cultura, este Ministério não só não assumiu essa responsabilidade, como também cortou os seus apoios, restando-nos ainda a Defesa, área do Governo a que temos estado sempre mais ligados.
Foi através duma forte contenção de despesas e da procura de mais receitas próprias, especialmente através da cedência de espaços e da angariação de mais sócios, efectivos e extraordinários, que fomos equilibrando a nossa dificílima gestão financeira. Eu próprio, bem como os restantes colegas da Direcção decidimos não imputar à SHIP as despesas normais inerentes ao exercício dos nossos cargos, mesmo quando as verbas estavam orçamentadas. Ao longo destes 7 anos, assumi, pois, pessoalmente, os encargos com deslocações, transportes, gasolina e até de representação, que foram bastante significativos. Foi assim, porque não havia dinheiro. Vários núcleos de actividades também conseguiram funcionar sem encargos para a SHIP.
Acho que nenhum governo do mundo, para alcançar os seus objectivos políticos, culturais e sociais, pode prescindir da colaboração efectiva e permanente da sociedade civil, que, em muitas situações e circunstâncias, sabe e pode fazer mais e melhor pelo país e pelos cidadãos do que os organismos públicos que, em alguns países como o nosso, cresceram e multiplicaram-se inutilmente, absorvendo fatias exageradas dos orçamentos. Não obstante a impressionante voracidade fiscal praticada no nosso país, o Estado partilha demasiado pouco os seus recursos, obtidos através de elevadíssimos e diversificados impostos, com as instituições da sociedade civil. Mesmo as mais prestigiadas e antigas, como a SHIP e a Sociedade de Geografia de Lisboa, por exemplo, estão incompreensivelmente entregues a si próprias, apesar de prestarem serviços relevantes ao país. Convém lembrar que os recursos obtidos pelo Estado são para Portugal (Estado e sociedade civil) e não para uso quase exclusivo do Governo. Quem não perceber isto, falhará irremediavelmente os objectivos políticos que traçou.
Perspectivo, por isso, a manutenção das dificuldades na SHIP, tendo também em conta a crise que se instalou entre nós e que não se deve apenas à conjuntura internacional.
Perspectivo, igualmente, os resultados dos esforços e da vontade dos responsáveis da SHIP e dos seus associados, que continuarão a defender e a afirmar a SHIP. O 150.° aniversário e o percurso feito, nunca isento de dificuldades e incompreensões, justificarão sempre esses esforços e darão renovado alento a todos.

Chaminés do Palácio da Independência
Chaminés do Palácio da Independência
Dr. Rangel na Inauguração da Exposição Fotográfica "Macau é um Espectáculo"
Dr. Rangel na Inauguração da Exposição Fotográfica “Macau é um Espectáculo”
Pia e painel de azulejos evocando as reuniões dos conjurados
Pia e painel de azulejos evocando as reuniões dos conjurados

Independência – O lançamento da nova série da revista é feito precisamente no enquadramento das comemorações do 150.º aniversário. O que significa para a Direcção da SHIP a concretização deste projecto?
Jorge Rangel – Creio que deve ser para toda a SHIP motivo de regozijo este lançamento. Estava no nosso programa para este mandato e só não foi feito mais cedo porque quisemos primeiro assegurar-lhe o indispensável sustentáculo financeiro. O generoso gesto do General Vasco Rocha Vieira, ao oferecer à SHIP, para este fim, a parte pecuniária do prémio que lhe foi atribuído (Prémio Aboim Sande Lemos – Identidade Portuguesa) e os apoios publicitários que várias entidades e amigos da SHIP nos prometeram, viabilizaram a iniciativa.
A colaboração foi, por outro lado, excepcional. Enquanto os portugueses gozavam as férias de Verão, fizemos, em Julho, Agosto e Setembro, as reuniões de trabalho necessárias. Ao contrário de muitos organismos da sociedade civil, que fecharam mesmo as portas, a SHIP esteve sempre aberta e em funcionamento. A trabalhosa coordenação de toda a parte executiva da revista foi entregue ao nosso colega da Direcção António Marques Francisco. A sua competência e dedicação merecem o nosso reconhecimento.
O lançamento da nova série da revista é uma afirmação da nossa confiança na SHIP, no seu papel, porventura ainda mais necessário nos tempos que correm, e em Portugal, cuja memória, legado e futuro deverão ser permanentemente preocupações nossas.

Independência – Quem frequenta regularmente ou visitou recentemente o Palácio da Independência, sede da SHIP, sabe que ele foi substancialmente valorizado nos últimos anos. Pode fazer uma síntese das principais obras realizadas?
Jorge Rangel – Sugiro que o n.° 2 da nossa revista dedique um amplo espaço de reportagem a este tema. Posso, resumidamente, identificar as seguintes obras: a recuperação total da lindíssima sala de azulejos, que se transformou num excelente espaço polivalente, sendo ali realizadas reuniões, exposições, palestras e actividades sociais; a regeneração completa dos espaços, nas chaminés do Palácio, onde se instalou a nossa cafetaria; a renovação da área destinada, no r/c do Palácio, a exposições temporárias, agora denominada “Espaço Fernando Pessoa”, após a instalação ali do busto do Poeta da “Mensagem”, oferecido pela saudosa escultora Irene Vilar, pouco antes do seu falecimento; a transferência da secretaria e dos serviços administrativos para área mais adequada, também recuperada, permitindo o aproveitamento de um óptimo espaço para a instalação do Instituto D. Antão de Almada, com auditório próprio, equipado para conferências, seminários, encontros e cursos, que também se multiplicaram na SHIP; a instalação, logo à entrada do Palácio, do nicho com a imagem da Padroeira de Portugal, linda e sóbria imagem cedida pelo Museu Nacional de Arte Antiga, e da capela votiva ao culto do Santo Condestável, São Nuno de Santa Maria, cuja memória e exemplo são do mais alto significado para a SHIP, sendo esta a primeira inaugurada após a sua canonização; a abertura da Sala Evocativa da SHIP; a dignificação do átrio principal do Palácio, que é a nossa sala de visitas, onde foram colocadas as bandeiras de Portugal, de D. Afonso Henriques à República; melhoramentos nos jardins do Palácio, enquanto se aguarda uma intervenção de fundo, com a colaboração da Câmara Municipal; a instalação e abertura ao público da Sala dos Conjurados, tornando mais atractivas as visitas de estudantes e membros de organismos socioculturais; e outras obras em diversos espaços, tornando-os mais úteis e funcionais, além das constantes obras de manutenção regular das instalações próprias. Também entrou em fase de restauro completo a Sala de Armas, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, com benefício evidente para o desenvolvimento da esgrima na SHIP, onde temos campeões nacionais. Este pelouro está entregue ao nosso colega Eng.° José Luís Tavares de Andrade, sendo a gestão dos espaços e da sua utilização confiada ao colega Dr. José Ângelo Lobo do Amaral, e pertencendo a gestão financeira ao vice-presidente, Dr. Eugénio Ramos.

Independência – Tem dito que a passagem do testemunho deve ser um acto normal e positivo em qualquer organismo. Quer isto dizer que vai fazê-lo na SHIP? 
Jorge Rangel – A passagem do testemunho é, efectivamente, um acto salutar em qualquer organismo, público ou privado, mesmo de natureza associativa e sem os dirigentes auferirem qualquer espécie de remuneração, como é o caso da SHIP. Entendi sempre que, em todos os cargos executivos que desempenhamos, há um tempo de entrada e um tempo de saída. É errado as pessoas eternizarem-se nos lugares que ocupam e só circunstâncias muito excepcionais podem justificar uma permanência para além de um certo tempo, mesmo quando as pessoas são escolhidas sucessivas vezes por vontade dos eleitores. Assim deve ser também na SHIP. Os membros da Direcção, ao cessarem funções, poderão continuar a dar à SHIP a melhor colaboração ao seu alcance. Na parte que me toca, ficarei sempre grato pela confiança e solidariedade que muitos associados foram expressando e pela resposta afirmativa que deram em todos os momentos, bons e menos bons, intensamente vividos ao serviço da mais justa e apaixonante das causas cívicas que é, para nós, Portugal.

Novos Estatutos da SHIP

Novos Estatutos da SHIP

Está em fase final de preparação o anteprojecto dos novos Estatutos da SHIP. Preside ao grupo de trabalho, criado no âmbito do Conselho Supremo, o Dr. Eugénio Ribeiro Rosa, presidente daquele órgão, e dele fazem parte os Drs. José Augusto de Alarcão Troni, Carlos da Silva-Gonçalves, José Manuel Marques Palmeirim e João Manuel de Almeida Loureiro, respectivamente, vice-presidente e membros do Conselho.