KC-390: um voo inesquecível, do Montijo a Beja

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Manuel Mota


O transporte militar, pela Força Aérea Portuguesa (FAP), tem uma longa tradição de serviço ao País e à Defesa Nacional. Em 1952 é criado este ramo das Forças Armadas, e desde esse momento as aeronaves que efectuavam anteriormente transporte militar, os Douglas C-54 “Skymaster” (versão civil: DC-4), que constituíram em 1954 os TAM (Transportes Aéreos Militares), passaram da BA-4, na Terceira (Base das Lajes) para Lisboa, para a Portela, para o que veio a ser primeiro ao Aeródromo-Base nº1 (AB-1), em 1955, e mais tarde o Aeródromo de Trânsito nº 1(AT-1) de Figo Maduro, e que hoje se encontra em plena actividade.
Em 1958 a FAP adquiriu 29 aviões “Dakota” (Douglas DC-3), uma aeronave quase mítica que ainda hoje voa, e que muito serviu Portugal no período da Guerra do Ultramar (1961-1975). De referir que a nível mundial foram produzidas mais de 10 000 destas aeronaves, que tiveram um importantíssimo papel de relevo na 2ª Guerra Mundial. Em 1961, e em resultado do início da Guerra do Ultramar em Angola, a FAP adquiriu 10 quadrimotores DC-6, mais tarde em 1972 enriquecida com a compra de dois Boeing 707, para uma mais eficiente comunicação com África.

Em 1977, a FAP adquiriu o Lockheed C-130H “Hércules”, de que ainda existem hoje algumas aeronaves no activo, na Base Aérea nº 6, no Montijo. Tive o privilégio de poder voar no “Hércules” pouco depois, em Janeiro de 1979, durante o meu serviço militar, um voo de Lisboa ao Funchal; a Esquadra (501 “Bisontes”) era comandada pelo então Tenente-Coronel (hoje Tenente-General) José Nico, grande piloto de Fiat G-91 na Guiné. Ao fim de 45 anos, estava na altura da FAP proceder á substituição deste velho “bisonte”, o que veio a suceder tendo a escolha recaído no EMBRAER KC-390 “Millenium”, uma parceria aeronáutica em ter o Brasil, Portugal e mais alguns outros países.

No âmbito das actividades da Associação dos Auditores do Curso de Defesa Nacional (AACDN), realizou-se em 09 de Abril de 2024 uma visita às instalações da Base Aérea nº 11, em Beja, onde se encontra estacionada a nova esquadra dos KC-390, a 506 (“Rinocerontes”). Para tal, foi programado um voo nesta aeronave a partir da BA-6, no Montijo, com aterragem em Beja.

O General João Cartaxo Alves (Chefe de Estado Maior da Força Aérea) dando as boas-vindas ao grupo de ex-auditores da Associação de Auditores de Defesa Nacional

Manhã cedo fomos amavelmente recebidos pela Srª Comandante da Base, coronel piloto-aviador Diná Azevedo, a primeira mulher a comandar uma base aérea portuguesa. Na Base encontravam-se ainda o Chefe do Estado Maior da Força Aérea (CEMFA) General Cartaxo Alves e pelo Comandante do Comando Aéreo, Tenente-General António Branco. Uma excelente oportunidade para os ex-auditores poderem trocar impressões com os altos comandos da FAP, nomeadamente a questão dos F-16 e a possível chegada dos novíssimos F-35.

Seguiu-se o voo de cerca de 15-20 minutos até Beja, um voo tranquilo que impressionou todos pelo relativo baixo ruido dos motores a jacto, comparativamente com os ruidosos hélices do C-130. Aqui chegados fomos recebidos de forma igualmente amável pelo comandante, coronel piloto-aviador João Filipe “Jedi” Rosa. Seguiu-se um interessantíssimo “briefing” em que o coronel João Rosa expôs um pouco da História da Base de Beja, contruída nos inícios dos anos 60 pelos alemães, no âmbito da NATO, assim como das funções e missões da Força Aérea Portuguesa, em geral. Foram detalhadas todas as aeronaves em serviço e as suas características. Impressionou todos, nomeadamente o destaque dado ao número de operações de busca e salvamento, em conjunto com a Marinha, de cerca de 900, em 2023, ou seja, em média cerca de 3 por dia.

Seguiu-se uma visita às instalações e hangares da Base. De enorme valia, a gigantesca sala onde irá ser instalado o simulador C-390 para as novas aeronaves, e que servirá para dar formação não só aos pilotos portugueses, como também a pilotos de outros países (em especial NATO). Um hangar muito interessante foi o construído para analisar acidentes aéreos, como por exemplo o sofrido há uns anos com a queda de um jacto de treino Cessna T-37, de um helicóptero Alouette III, em 2000, em Timor-Leste, ou mais recentemente o trágico acidente no Montijo com a queda de um C-130 na pista.
Após um estupendo almoço em um dos hangares, efectuou-se a visita a um dos aviões Lockeed P-3 “Orion”, cuja esquadra 601 (“Lobos”) se encontra também sediada em Beja. Trata-se de uma importantíssima aeronave de vigilância, busca e salvamento, que efectua a vigilância da nossa Zona Económica Exclusiva, uma das maiores da Europa. Todas as informações foram-nos transmitidas de forma clara e compreensível. A meio da tarde, regressamos ao Montijo, de novo um voo tranquilo. A visita constituiu uma enorme mais-valia para todos os participantes, e uma extraordinária sensibilização para o papel e importância da FAP, e das Forças Armadas em geral, para a Defesa Nacional. Enriqueceu-nos todos e voltámos mais conhecedores de problemas essenciais nesta área cada vez mais importante nos tempos actuais de graves conflitos, um em particular às portas da Europa. Está de parabéns a Direcção da AACDN por esta iniciativa.