José Ribeiro e Castro
Este artigo é o discurso feito pelo Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, José Ribeiro e Castro, nas Comemorações dos 359 anos da Batalha de Montes Claros, no dia 17 de Junho de 2024, junto do espaço de interpretação histórica e paisagística da Batalha de Montes Claros.

A batalha de Montes Claros, há 359 anos, foi a batalha decisiva da Guerra da Restauração. Teve a mesma importância que a batalha de Aljubarrota, na Guerra da Independência. Em ambos os casos, os exércitos castelhanos empreendiam a ofensiva decisiva, em marcha para submeter Lisboa. E, em ambos os casos, a vitória retumbante das forças portuguesas convenceu de vez os nossos vizinhos de que o melhor era estarem quietos e aceitarem e respeitarem a independência de Portugal.
A seguir a Aljubarrota, em agosto de 1385, ainda houve a batalha de Valverde, perto de Mérida, em outubro do mesmo ano, travada por nossa iniciativa, para arrumar o assunto de vez. E a paz só seria assinada 26 anos depois, em outubro de 1411, pelo tratado de Ayllón, perto de Segóvia.
Já Montes Claros, em junho de 1665, encerrou uma série vitoriosa para Portugal (Linhas de Elvas, Ameixial, Castelo Rodrigo, Montes Claros), não havendo mais nenhuma batalha a seguir. Foi a última. O rei Filipe IV de Espanha (que fora o nosso III, apeado pelo 1.º de Dezembro) morreu logo em setembro seguinte, acabrunhado pelo desgosto da derrota final; e a paz seria assinada, dois anos e meio depois, em Fevereiro de 1668, pelo tratado de Lisboa, pondo termo a 28 anos de estado de guerra. 28 anos de guerra, desde 1640!

Há momentos na História que designo de momentos de sim ou não. São momentos em que ou somos, ou deixamos de ser, momentos em que ou continuamos, ou acabamos. Aljubarrota e Montes Claros são momentos históricos deste calibre: momentos em que, tendo vencido, continuámos e mais fortes, como portugueses, próprios, livres, independentes; momentos em que, se tivéssemos perdido, podíamos ter desaparecido, esmagados e engolidos.
Se a batalha de Montes Claros fosse perdida – e, com ela, a Guerra da Restauração –, o 1.º de Dezembro teria sido em vão, triturado 8.964 dias depois; Filipe III (IV de Espanha) reassumiria o trono português; a repressão seria feroz sobre os Bragança e todos os apoiantes; a centralização querida pelo Duque de Olivares seria aplicada; ter-se-ia perdido a laboriosa diplomacia europeia do Padre António Vieira e doutros; na melhor das hipóteses, o Brasil assumiria a independência, talvez arrastando consigo Angola e São Tomé, mas seria muito difícil; no Além-Mar, nada seria igual ao que conhecemos; Macau e Timor seriam holandeses; e dificilmente, olhando o curso da História, Portugal teria nova oportunidade para ressurgir, após o esmagamento da Restauração. Não teria havido a questão de Olivença em 1801, porque, entretanto, Portugal inteiro teria sido uma Olivença.

Depois de os castelhanos tomarem Borba e posto cerco a Vila Viçosa, os combates em Montes Claros, que foram longos (muito mais que em Aljubarrota), tiveram momentos de perigo para o lado português. Podia ter-se perdido. Mas a tenacidade e a astúcia das tropas lideradas pelo Marquês de Marialva e pelo Conde de Schomberg conseguiram parar e repelir todos os ataques dos invasores comandados pelo Marquês de Caracena, que foram desmoralizando, com a fuga de Caracena para Juromenha, acabaram em debandada geral.

Os registos históricos relatam que, nesta batalha, morreram 4.000 espanhóis e 700 portugueses. Curvo-me perante a memória de todos e rezo por eles, agradecendo aos nossos, os que morreram e os sobrevivos, a coragem e a determinação com que salvaram Portugal e mantiveram as restauradas liberdade e independência. Glória ao seu exemplo! Honra e gratidão à sua memória!
Em nome da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, agradeço, profundamente reconhecido, à Fundação Batalha de Aljubarrota, todos os esforços feitos para a classificação deste Campo de Batalha da nossa Pátria portuguesa e os valiosos instrumentos de informação e de interpretação históricas, aqui no campo e em Borba, que passarão a recordar perpetuamente o que aqui aconteceu, neste dia do sim ou não, neste dia do sim. Agradeço a todos os obreiros na pessoa do Presidente da Fundação, Dr. António Ramalho, e evoco o seu antecessor, Dr. Alexandre Patrício Gouveia, prematuramente falecido, que idealizou e iniciou este projecto. Recordo, com saudade, a visita que aqui fizemos, em Março de 2013, com o Henrique Cayatte e a Maria Flor Pedroso, sempre guiados pelo entusiasmo fogoso do Alexandre, no princípio daquilo que, aqui, hoje é inaugurado.
São os portugueses e Portugal que agradecem à Fundação. E é como um deles que também o faço. Muito obrigado.