João Jorge Botelho Vieira Borges
Fernando António de Oliveira Carvalho Rodrigues foi admitido como sócio efetivo da SHIP com o n.º 4046 (com a remuneração dos sócios, atualmente tem o n.º 339), a 26 de novembro de 1992, sendo então Presidente o saudoso General Manuel Freire Themudo Barata. Foi depois admitido como conselheiro efetivo do Conselho Supremo em 2006 e assim se manteve até 2023.
Carvalho Rodrigues nasceu em Casal de Cinza, a 28 de janeiro de 1947 (tem 77 anos). É conhecido como o “pai” do satélite português, tendo sido o responsável máximo pelo consórcio PoSAT que constituiu e lançou o primeiro satélite português, a 26 de setembro de 1993, da base espacial de Kourou na Guiana Francesa, e a bordo do foguetão Ariane. O Satélite PoSAT-1 já não comunica desde 2016, mas ainda se encontra no espaço. No final dos anos 90 foi utilizado pelos militares portugueses para a transmissão de mensagens em diferentes forças nacionais destacadas como na Bósnia ou em Angola. O segundo satélite português, o Aeros MH1, só seria lançado cerca de 30 anos depois, a 4 de março de 2024, a partir da Base Espacial de Vandenberg, na Califórnia (EUA) e a bordo de um foguetão Falcon9 da SpaceX.
Carvalho Rodrigues tem um site pessoal e público, que facilita a busca de informação sobre as diferentes vertentes da sua vida (https://www.fernandocarvalhorodrigues.eu/pt/ ). Nesse sentido, vou seguir, no essencial, as suas opções curriculares, começando pela formação académica.
Com poucos meses de idade veio viver para Lisboa com os pais, onde frequentou a Escola Primária Voz do Operário (e onde recebeu o prémio Ricardo Covões em 1957) e depois o Liceu Nacional de Gil Vicente (onde foi distinguido com o Prémio D. Dinis – destinado ao melhor aluno nacional 1958-1964). Em 1969 licenciou-se em Física com especialidade em Ótica e Optoelectrónica pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e em 1974 doutorou-se em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade de Liverpool.
Da sua carreira académica destaco o facto de ter sido o fundador e primeiro Diretor da Escola Portuguesa de Ótica Ocular (Optometria – 1980-87), tendo sido Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico entre 1985 e 1996. Entre 1995 e 2005 foi depois Professor Catedrático e Diretor da Faculdade de Ciências de Engenharia da Universidade Independente, assim como Pró-Reitor para a Investigação. Entre 2012 e 2016 foi Professor Catedrático do IADE-U (Instituto de Arte, Design e Empresa- Universitário) e mais recentemente, entre 2021 e 2022, foi Presidente do Conselho Geral do Instituto Politécnico da Guarda (IPG).
Da carreira profissional, o próprio Carvalho Rodrigues começa por destacar o facto de ter sido Bolseiro da Junta de Energia Nuclear (entre 1969 e 1975), tendo mais tarde, entre 1978 e 1979 sido Especialista de Investigação. Foi depois Investigador Principal e Investigador Coordenador no Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (LNETI, entre 1979-1984), por concurso público.
Nas atividades de engenharia e para além do Satélite PoSAT-1 (no âmbito do Consórcio Po-SAT), lançado e operacional desde 26 de setembro de 1993, sublinha que é detentor de seis patentes, tendo projetado e desenvolvido a engenharia de vários produtos, atualmente em produção industrial, alguns deles alvo de exportação, casos do colimador de pontaria, da visão noturna e dos sistemas de visão inteligente em tempo real.
Das inúmeras atividades de gestão e empresarial, destaco o Sócio-Fundador da AASO (Associação de Apoio à Sustentabilidade da Ótica) em 2022, o Presidente da Assembleia Municipal da Guarda (2013-1017), o Gerente da Empresa Professor Doutor Fernando Carvalho Rodrigues Unipessoal (2013-2016), e o Presidente da APAETT (Associação dos Proprietários e Arrais das Embarcações Típicas do Tejo) em 2007. De cariz mais científico e académico destaco o Diretor de Programas de Ciência da NATO (1999-2012), o Presidente do NAIPTEL – Núcleo das Indústrias de Telecomunicações da Associação Industrial Portuguesa (1996-1999) e em especial o Chefe do Consórcio PoSAT, entre 1991 e 1999. Foi ainda Presidente da Assembleia Geral da AFCEA (1990-2014), Diretor do Instituto de Tecnologias de Informação do LNETI (1985-1997), Diretor do Consórcio SATCART e Diretor do Departamento de Ciências e Tecnologias Nucleares do Instituto de Energia do LNETI (1981-1985).
Da atividade científica e técnica, Carvalho Rodrigues destaca o facto de ter sido galardoado com o Prémio Pfizer em 1977, o Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia em 1978 e em 1982 pelo desenvolvimento de algoritmos de cálculo de sistemas óticos e pela aplicação de técnicas laser na caracterização de matérias-primas têxteis. Não esquece a Sociedade Histórica da Independência de Portugal que o galardoou, em 1989, pelo conjunto da sua obra científica, com o Prémio da Identidade Nacional. A Casa da Imprensa votou-o como cientista do Ano de 1993, atribuindo-lhe o Prémio Bordalo. Em 1996 foi distinguido com a Albert J. Myer Achievement Award pelo trabalho em teoria da informação. Em 1998 recebeu o “Diploma de Mérito” da Associação Nacional dos Óticos (ANO) e em 2014 o Prémio Carreira da ANO. Pela sua atividade de Conselheiro Científico da NATO, entre 1999 e 2012 recebeu a medalha Lavoisier do Comissariado de Energia Atómica de França. Foi supervisor de dezanove teses de Doutoramento e investigador principal de inúmeras teses de mestrado.
Carvalho Rodrigues é membro de várias academias e sociedades científicas e profissionais, nacionais e estrangeiras, a última das quais, em 2023, como Primeiro Associado Honorário da Associação Portuguesa de Professores de Física Química.
Entre as condecorações destacam-se, em 2023, a Medalha de Mérito Científico atribuída pela Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e a Medalha de Honra, grau ouro, do Município da Guarda. É comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada (1992).
Como especialista em teoria da informação, ótica e optoelectrónica, Carvalho Rodrigues tem mais de duzentos trabalhos publicados no estrangeiro e em Portugal. Publicou cinco livros em Portugal, um nos EUA e outro na Federação Russa. Entre estes, destaco “Convoquem a Alma”, editado pelas Publicações Europa-América em 2005, cujo acesso livre pode ser feito através da internet. E o cientista, que acredita em Deus, começa o livro do seguinte modo:
“Do Nada”. “A vasta maioria do Universo é … nada. Sim, de tudo o que há por aí, o que mais enche o Universo é nada. É o vazio. O que ocupa mais espaço? É nada. O que mais preenche tempo? É nada. Antes do big-bang havia nada. A seguir, logo a seguir, Universo. Antes de mim havia nada. Logo a seguir, eu. Antes do amor havia nada. Logo a seguir, tu. Antes da separação havia nada. Logo a seguir, saudade. Do nada ou no nada aconteceu tudo. Porque do nada sai tudo. O nada tem que ter uma estrutura. Uma estrutura que crie a partir do nada, do vácuo, do vazio. A Física Quântica anda em busca da estrutura do vácuo. A estrutura que deu para a criação do Universo. As religiões garantem que a estrutura do vácuo, do vazio, do nada é o Verbo: “No princípio era o Verbo”.
Conheci o Doutor Carvalho Rodrigues, no âmbito das suas inúmeras palestras proferidas nos diferentes Estabelecimentos de Ensino Superior Militar, em especial no antigo Instituto de Altos Estudos Militares, onde o profundo conhecimento e cultura geral, aliado à eloquência da comunicação, entusiasmavam o público, dos mais jovens aos mais experientes, desde civis a militares. Como figura pública preservou sempre a sua família e assumiu publicamente como lema de vida a divisa da Academia das Ciências de Lisboa: “A glória é vã se o que fizermos não for útil”. Por isso continua a empenhar-se em atividades cívicas com sentido de utilidade. Apesar de sósia assumido de Luciano Pavarotti, nunca se dedicou à música e ao canto, mas a outros hobbies como a Marinha do Tejo, a poesia (adora e cita regularmente Fernando Pessoa) e a Associação dos Amigos de Nossa Senhora da Lapa (refere frequentemente o milagre de 1498 da jovem Joana, até porque “a vida é feita de milagres”).
Carvalho Rodrigues vive, desde 2012, fora dos grandes centros, na sua terra natal, em Casal de Cinza, freguesia do concelho da Guarda, na companhia de pouco mais de 400 “fregueses” e de uma coleção de burros, todos com nome próprio.
Faço votos de que a Nossa Senhora da Lapa o acompanhe com saúde e alguns milagres durante muitos anos de vida, e agradeço o legado científico e de cidadania, que responsabiliza esta cadeira da sorte com o número 13.
Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Lisboa, 27 de junho de 2024.
* Sócio efetivo n.º 968, Conselheiro titular da cadeira n.º 13.